Chen Guangcheng quer asilo político nos EUA e ir no avião com Hillary

In Derechos humanos, Noticias by PSTBS12378sxedeOPCH

Quando pouco passava das nove da noite de quarta-feira, Zeng Jinyan, mulher do activista Hu Jia fez circular o primeiro tweet de alerta. “Chen Guangcheng falou comigo. O que está a sair nos media está errado.” Em poucos minutos saíram mais cinco tweets em chinês que foram quase imediatamente traduzidos e reenviados centenas de vezes.


Uma primeira confusão entre os meios de comunicação estrangeiros criou a dúvida sobre se seria mesmo Zeng a escrever. A mensagem era clara. Chen estava a pedir ajuda, tinha sido ameaçado, tal como a mulher e os filhos, e não queria continuar na China.

A versão que contradizia totalmente o que tinha sido dito até então começou a circular nos meios de comunicação estrangeiros e depois de alguns telefonemas a Zeng Jinyan, a Associated Press foi a primeira a publicar que os amigos de Chen Guangcheng estavam a alertar que ele tinha sido ameaçado pelo governo.

Durante algumas horas a embaixada dos Estados Unidos garantiu, também através das redes sociais, que Chen teria escolhido naquela manhã sair da missão diplomática de livre vontade, indo directamente para o hospital. Uma mensagem que apesar de ter circulado como as mensagens de Zeng Jinyan, hoje em detenção domiciliária, durou poucas horas até ser posta em causa pelo próprio Chen Guangcheng que lançou um pedido de ajuda público ao presidente dos Estados Unidos através da cadeia CNN.

O asilo político parece ser a única solução para o activista e a família, vítimas de ameaças por membros do governo local assim como do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mas trata-se de um difícil acordo, uma vez que Chen mudou de ideias.

O compromisso de Hillary Clinton de que os Estados Unidos continuariam a seguir a sua causa e vida na China durante os próximos anos, deixou de ser garantia da boa fé do governo chinês em resolver este caso que criou um dos piores impasses na história das relações diplomáticas entre Pequim e Washington.

No avião de Hilllary

“A minha fervorosa esperança é que seja possível, a mim e à minha família, partir para os Estados Unidos no avião de Hillary Clinton”, disse Chen, em entrevista à publicação electrónica Daily Beast.

Enquanto a secretária de Estado Hillary Clinton está em Pequim para encontros bilaterais com a liderança chinesa, a sua porta-voz, Victoria Nuland, confirmou em declarações à imprensa que Chen e a mulher, em conversações com responsáveis norte-americanos, confirmaram que já não querem permanecer na China ao abrigo do acordo que aceitaram para o activista abandonar a embaixada norte-americana, onde se tinha refugiado.

“O que agora é claro é que, nas últimas 12 a 15 horas, eles, enquanto família, mudaram de opinião quanto à permanência na China. Temos que falar melhor com eles, perceber melhor o que eles querem fazer e, em conjunto, estudar as suas hipóteses”, disse Nuland, em Pequim.

Ao Daily Beast, Chen disse que o que esperava ao deixar a embaixada norte-americana para dar entrada no hospital era que o embaixador dos Estados Unidos e outro diplomata ficassem com ele, mas acabaram por deixá-lo sozinho, com a família.

“Quando me levaram para o quarto do hospital, foram-se todos embora. Não sei para onde foram”, afirmou, acrescentado que nem ele nem a família se sentem seguros na China e querem deixar o país.

Até agora, o Departamento de Estado norte-americano tem vindo a garantir que Chen nunca pediu asilo político e negou alegações que o ativista dos direitos humanos tenha sido pressionado para deixar a embaixada.

Uma história com final incerto

Sem possibilidade de fazer chamadas, Chen tem consigo o telemóvel. Há dois dias no hospital de Chaoyang, Chen é o paciente mais procurado e na porta principal do hospital, vários polícias e guardas impedem a entrada a jornalistas estrangeiros.

Depois de várias incertezas sobre como tinha sido possível que em menos de 24 horas, toda a história mudasse, a porta-voz do governo norte-americano Victoria Nuland confirmou que Chen Guangcheng pediu mesmo para sair da China com a família mas que só o fez depois de ter chegado ao hospital.

Ao final do dia de quinta-feira, as informações continuavam a ser incertas sobre como vai terminar a história.

Em observação médica, o activista está na companhia da mulher e dos filhos, um dos quais faz anos esta sexta-feira. Não há informação sobre até quando ficará no hospital nem de que maneira, isto é, com que estatuto poderá sair.

Organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch alertaram para a perseguição que está a ser feita a todos aqueles que o ajudaram na fuga. Activistas como Teng Biao, advogado de direitos humanos, e Zeng Jinyan, pediram através das contas twitter para os jornalistas pararem de telefonar por razões de segurança. Teng Biao informou que tudo o que podia dizer tinha sido passado pelo twitter.

No mesmo registo, também Zeng Jinyan, a mulher de Hu Jia, e a primeira a lançar o alerta de que a história não estava toda contada, disse não poder falar mais. Ao final do dia, mais um amigo de Cheng, o advogado chinês Jian Tianyong, foi levado do hospital pela polícia de Pequim. Mais um nome a juntar-se às dezenas de detidos que o caso Chen já fez nos últimos dias.

O Embaixador americano Gary Locke, garantiu na quinta-feira que Chen saiu por sua vontade, depois do governo chinês ter concordado em trazer a mulher e a família para Pequim, onde Chen os podia encontrar no hospital de Chaoyang. Gary Locke assegurou que na primeira conversa telefónica de Chen com a esposa, os dois concordaram em aceitar o plano proposto pelo governo central de o deixar mudar de cidade e entrar numa universidade com as despesas cobertas pelo governo.

Sobre as razões que o levaram a mudar tão drasticamente de ideias, a Embaixada norte-americana remete-se ao silêncio, assim como sobre o facto de depois de ter ficado sozinho no hospital, Chen Guangcheng poder ter sido ameaçado.

Há uma nuvem negra sobre a cimeira China Estados Unidos que decorre em Pequim até Sexta-feira e nos bastidores procura-se uma solução que possa agradar os dois lados. Mas sendo uma questão tão sensível, é de esperar que muitas reuniões tenham lugar nos próximos dias.