Presença do investimento chinês em Portugal, situação actual e tendência de evolução no futuro

In Análisis, Política exterior by PSTBS12378sxedeOPCH

A presença da República Popular da China no Mundo, através do seu povo e do seu investimento, é evidente e crescente. Este artigo pretende dar a conhecer o investimento chinês realizado em Portugal na última década.

No final de 2011, a China Three Gorges comprou cerca de 21,35% da EDP, a eléctrica portuguesa. A compra foi resultante de um longo processo de privatização, ao qual concorreram empresas como a Electrobras e a E. ON.

Em Fevereiro de 2012, a State Grid comprou 25% da empresa REN (Rede Energética  Nacional) e em Janeiro deste ano a Fosun compra 80% do capital da Caixa Seguros. Esta compra representa cerca de 30% do mercado segurador nacional.

Em Março de 2013 a Beijing Enterprises Water Group comprou a Veolia Water Portugal que assegura o abastecimento de água aos concelhos de Valongo, Paredes, Mafra e Ourém, um investimento que ascendeu a 95 milhões de euros. Na mesma data, uma empresa chinesa terá comprado 35% da EDC Mármores do Alentejo por 24 milhões de euros, compra que se destina ao aproveitamento dos escombros das pedreiras para serem aproveitados e transformados em marmorite. 80% da produção será exportada para a China.

Todos estes investimentos constituem marcas da estratégia de Soft Power da República Popular da China, ou seja, marcas evidentes de que o Império do Meio pretende não só investir no estrangeiro, como também aumentar a sua influência tudo através da cooperação mútua e da ajuda aos parceiros negociais, neste caso a Portugal. Segundo palavras de Huang Songfu, Embaixador da China em Portugal, este último negócio é “mais um projecto de investimento que une os dois países”.

Os financiamentos a empresas portuguesas conduziu também à instalação de bancos chineses em Portugal. É o caso do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) que se instalou em Lisboa em Fevereiro de 2012, seguido do Bank of China.

Outros negócios poderão surgir, nomeadamente no sector das águas. A empresa Águas de Portugal está  sob a mira da Beijing Enterprises Water Group  e a Águas de Pequim.  Já este ano, há perspectivas de que o cinema Londres, em Lisboa, marco inegável da cultura lisboeta, encerrado em 2013 pela exibidora Socorama, vai dar lugar a uma loja chinesa de retalho.

Em 2009 e 2010, a China comprou dívida pública portuguesa, mostrando confiança na recuperação da economia lusa. 

No entanto, os vários investimentos feitos pelos chineses são vistos de modo diferente por economistas, analistas, estudiosos e população em geral. Com efeito, esta posição da RPC pode ser vista como uma ajuda, mas para muitos é uma “operação de charme”. Ou seja, o gigante asiático tenta aproximar-se de vários países da Europa para não ficar demasiado dependente do mercado Norte-Americano e do dólar, tem todo o interesse em que a União Europeia se mantenha coesa. Portugal pode ser para a China uma porta de entrada para outros mercados lusófonos, nomeadamente Brasil e países do continente africano, onde a presença da China já é inquestionável.

Outra das marcas evidentes da aposta dos chineses em Portugal, mas também do interesse de Portugal nessa aposta é a concessão por parte do Governo português de Vistos Gold.  O Visto Gold é uma autorização de residência para entrada e permanência em território português, para fins de investimento . Destina-se a  cidadãos de território da União Europeia, ou do espaço Schengen que preencham determinados requisitos  relacionados com investimento, aquisição de imóveis e/ou criação de emprego no País. Segundo a legislação publicada recentemente, os estrangeiros que criarem pelo menos dez postos de trabalho ou efectuarem um depósito bancário superior a um milhão de euros também têm direito à Autorização de Residência para Actividades de Investimento (ARI).

Portugal já atribuiu alguns vistos Gold a chineses essencialmente por investimento no sector imobiliário. A título de exemplo, o Restaurante Belcanto, no Chiado, em Lisboa, explorado pelo chefe José Avillez e com uma estrela Michelin, foi adquirido por dois investidores chineses como forma de ajudar à obtenção do visto.

Por interesse genuíno ou apenas como parte de uma estratégia mais ampla de “Soft Power”, a República Popular da China e Portugal têm estreitado relações, ainda que possa ser insignificante do ponto de vista chinês, tendo em conta a dimensão do mercado chinês e do seu investimento em todo o Mundo.