Este é o primeiro relato concreto sobre o que terá motivado a morte do empresário britânico – a mulher de Bo Xilai, Gu Kailai, foi acusada na semana passada de envolvimento no caso e especulava-se que a morte teria sido motivada por “conflitos sobre interesses económicos”.
Agora, segundo as fontes citadas pela agência Reuters, a mulher de um dos mais populares e influentes políticos do país – afastado, também na semana passada, do Politburo (o segundo centro de decisões mais influente da China, composto por apenas 25 membros) e do Comité Central do Partido Comunista Chinês, por “envolvimento em graves violações disciplinares” – terá pedido a Neil Hewywood que transferisse uma “grande quantia” de dinheiro para o estrangeiro e terá ficado furiosa com o facto de o empresário ter exigido ficar com uma grande parte dessa verba.

Envenenamento
As autoridades estão convencidas de que o empresário foi envenenado por um dos empregados da família de Bo Xilai, por ter ameaçado revelar as intenções de Gu Kailai, caso esta não aceitasse partilhar o dinheiro que pretendia fazer sair da China.

O empresário britânico Neil Heywood morreu em Novembro do ano passado na província de Chongqing, até há bem pouco tempo liderada pelo próprio Bo Xilai – cargo de que este também foi afastado –, onde estabelecera uma reputação de combate ao crime organizado com recurso a métodos considerados violentos.

“Heywood disse a Gu Kailai que se ela pensava que ele estava a ser ganancioso, então não queria envolver-se na operação, mas disse também que poderia denunciá-la”, contou à Reuters uma fonte que tem acompanhado a investigação.

“Depois de Gu Kailai ter descoberto que Heywood não iria concordar com o seu plano e que até iria resistir, fazendo ameaças, o cenário começou a ficar muito complicado para ela e para Bo Xilai”, disse a mesma fonte, que pediu o anonimato devido à natureza sensível deste caso.

Campanha suja
Nem Gu Kailai – que está detida e poderá vir a ser condenada à morte, se o seu envolvimento vier a ser provado –, nem Bo Xilai, nem as autoridades comentaram os mais recentes desenvolvimentos. Os seus defensores falam numa campanha suja para desacreditar Bo, que estava a ganhar uma enorme influência no aparelho político.

A última semana de vida de Heywood foi passada em Chongqing, onde permaneceu em dois hotéis: o Nanshan Lijing Holiday Hotel e o Sheraton. Contudo, o pessoal de ambos os hotéis disse nada saber acerca da morte de um inglês. Este fim-de-semana um guarda barrava a passagem para uma zona de apartamentos aparentemente vazios no Nanshan Lijing Holiday, alegando que ali estava a decorrer uma reunião.

A fonte adiantou que o desentendimento entre Gu e Heywood se seguiu ao período em que esta o via como uma alma gémea, depois de se ter afastado do seu ambicioso e eternamente ocupado marido.

A natureza do relacionamento, apesar de profunda, não seria de carácter romântico, acrescentou a fonte. “Bo e Gu já não eram um casal há vários anos… Gu Kailai e Heywood tinham uma relação profunda e ela sentiu muito a ruptura no relacionamento”, disse Wang Kang, um conhecido empresário de Chongqing, que teve acesso a detalhes do caso através das autoridades chinesas.

“A mentalidade de Gu era ‘traíste-me, por isso vou vingar-me’”, disse Wang no seu escritório, rodeado de fotografias suas com altos dirigentes chineses, entre os quais o pai de Bo, antigo camarada de Mao Tsé Tung.

Início do fim
Heywood, que conheceu a poderosa família de Bo Xilai nos anos 90, ajudou mais tarde o filho do casal a entrar na Harrow, uma exclusiva escola inglesa, disse uma outra fonte com contactos na polícia.

Apesar de a pressão sobre a carreira política do “príncipe” do regime comunista não ser um acontecimento recente, o caso que pode ser descrito como o início do fim tem data marcada: 6 de Fevereiro de 2012. Foi nesse dia que Wang Lijung, o chefe da polícia de Chongqing que liderou no terreno uma dura política de combate ao crime organizado delineada por Bo Xilai – que, segundo o Financial Times, levou à detenção e à tortura de milhares de empresários, cujos bens eram depois entregues a empresas ligadas ao aparelho político da província e a organizações estatais – decidiu procurar refúgio no consulado norte-americano na cidade de Chengdu, com a intenção de pedir asilo político. Segundo Wang, a sua relação com Bo Xilai tinha chegado a um ponto em que já o levava a temer pela sua vida.

Mas Wang Lijung não entrou de mãos vazias no consulado: levava um conjunto de documentos que alegadamente provam o envolvimento da mulher de Bo Xilai na morte do empresário Neil Heywood por causa de “conflitos sobre interesses económicos”.