Um jornal oficial chinês negou ontem a existência de uma luta política interna no Partido Comunista Chinês (PCC), afirmando que o afastamento do Politburo de um dos políticos mais conhecidos do país, Bo Xilai, “é “um caso puramente judicial”.
“Não há nenhuma luta política interna. Já houve, durante o período revolucionário da China, mas acabou quando o país abraçou uma orientação reformista”, disse o “Global Times”, publicação em inglês do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.
Um dos dois editoriais que o “Global Times” publicou ontem sobre o assunto intitula-se “Não transformem o caso Bo Xilai num escândalo político”.
Ex-líder do PCC em Chongqing, o maior município chinês, com mais de 30 milhões de habitantes, Bo Xilai, 63 anos, é geralmente associado à “linha esquerdista” do PCC, partidária do papel dominante do Estado na economia e do revivalismo da chamada “cultura vermelha”.
“Evidenciar uma luta entre facções políticas pode excitar a opinião pública acerca do caso Bo Xilai, mas não afectará a China toda. Com o progresso da investigação, o público acabará por entender perfeitamente este caso”, comenta um dos editorialistas do “Global Times”.
Segundo outra opinião expressa no jornal, “o consenso quanto à necessidade de reformas na China já foi alcançado entre os principais decisores políticos do país” e “desse ponto de vista, todos são reformistas”.
“Pode haver diferentes opiniões sobre o ritmo e o método das reformas”, mas “o sistema político da China estabelece a solidariedade e a harmonia como a base do governo nacional”, acrescenta o editorial.
No passado dia 11 de Abril, a Comissão Central de Disciplina do PCC anunciou que Bo Xilai está a ser investigado por “grave violação da disciplina” e que a mulher, Gu Kailai, foi presa por suspeita de homicídio.
É um caso sem precedentes na política chinesa e ocorre cerca de seis meses antes de um crucial congresso do PCC.
Convocado para o segundo semestre deste ano, o XVIII Congresso do PCC irá eleger a liderança do país para a próxima década.
Uma nova geração, encabeçada pelo actual vice-presidente, Xi Jinping, e o vice-primeiro-ministro executivo, Li Keqiang, irá ascender ao topo da hierarquia, substituindo o Presidente Hu Jintao e o chefe do governo, Wen Jiabao, que completam 70 anos de idade.
Até há muito pouco tempo, Bo Xilai era apontado como um dos candidatos ao Comité Permanente do Politburo, a cúpula do poder na China, composta apenas por nove elementos.